vulgar



Fugiste pela porta que deixei aberta num dia de calor intenso, onde tudo estava bem à nossa volta, mas não em nós. Tu saíste, e eu sorri. Saberia que havias de voltar, mas não o fizeste, e eu esperei até ao dia em que descobri que já tinhas a tua vida construída, com dois filhos, duas meninas, que herdaram os teus gestos, aqueles que tanto me assombram a memória. Eu sempre sonhei que irias construir família, mas comigo ao teu lado e não com essa que não tem o teu jeito, que não se encaixa em ti como eu encaixava. Foi a tua escolha e eu respeito-a. Já me retiro com suavidade, sem perceberes que fui e já não volto. Deixa-me apenas olhar um pouco mais para ti, relembrar o passado e mantê-lo vivo em mim, deixa que esta saudade se digne a largar-me e se distancie juntamente com a dor. Vou para longe, bem longe, onde serás obrigado a sair de mim, da minha pele, dos meus lábios, das minhas mãos, dos meus olhos, da minha mente. Não te quero ver mais, nem a essas pequenas que têm o teu sorriso. Não me viste, nem me vês, não me sentes, não me agarras. Deite a liberdade que te fez ir e tu, inconscientemente, tiras-me a liberdade que me faz ficar. Olha, deixa-me. Vai ter com quem escolheste, já não interfiro mais na tua vida. Já não sinto medo de te perder, porque isso já aconteceu há muito tempo, portanto posso sair que não há nada a atormentar-me, ou se calhar até há. Este sentimento que não me deixa seguir um caminho oposto ao teu, não me deixar ir para um sítio longínquo, que não me permite retomar o sentido da minha vida. Por isto, acho que vou ficar aqui, perto de ti. Sem que tu notes a minha presença.




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